quarta-feira, 25 de julho de 2012

Santo bat-plágio, Turquia!



A fantástica indústria de cinema daquele país cuja capital é Ankara e não Istambul (!) já nos presenteou com várias pérolas fundamentais da cara de pau. Aí está o Super Homem turco que não nos deixa mentir. O Capitão América turco também, idem com o Homem Aranha turco e o Conan turco. Até o Rambo turco, caramba! Por que diabos com Batman e Robin não seria diferente?

Desnecessário o soar das trombetas e o rufar dos tambores, e nem é com tanto orgulho assim que lhes apresento a exumação de hoje, um filme da dupla dinâmica megatosco, que conseguiu vários pontos na escala Richter da tosquice: "Yarasa Adam", de 1973, é uma tentativa safardana de tentar capitalizar alguns anos depois com o sucesso do inesquecível seriado do Batman!

E notem que tentar revitalizar o "clima divertido" dos episódios do homem morcego já não era novidade nos anos noventa, na época do Joel Schumacher, quando ele resolveu derreter os miolos dos amantes de filmes de super-heróis com o desfile de escola de samba travestido de filme, a pérola estrelada pelo Schwarza de Senhor Frio, o inominável "Batman e Robin" de 1997!! Essa hecatombe morcegal (que aliás foi tema do The Dark One Podtrash dessa semana - http://td1p.com/podtrash-99-santa-paciencia-batman/) do Joel Schumacher tinha tudo pra revitalizar a psicodelia e a diversão escrachada do seriado dos anos sessenta, mas ao invés disso veio com bat-mamilos e o futuro governador da Califórnia pintado de azul, pra nosso horror, medo e desespero!!

Mas deixemos rapidamente o longa estilo Baile de Carnaval Scala Gay feito especialmente pra criançada pra lá - e também o seriado estrelado pelo eterno Batman Adam West, pasmem! Por quê? Ora, porque o filme turco buscou plagiar, digo, revitalizar o clima do seriado do Batman... dos anos quarenta!! Pois é, caríssimos, assim como no seriado original em preto e branco, o bat-filme turco mostra, por exemplo, os integrantes da dupla dinâmica como agentes das forças policiais do governo! Em preto e branco, claro!

Mas o Batman da Turquia vem acrescido de detalhes tipicamente turcos que não encontramos nos super heróis frouxos dos States! O homem morcego xerocado dessa versão é detetive contratado pela polícia pra investigar os misteriosos assassinados da mulherada gostosa de Istambul. Esse Batman é o cara! Que atira nos meliantes! Que não tem remorso algum enquanto vários meliantes se suicidam! Que fuma! Que ignora a sua identidade secreta! Que tem um bat-chevete! Que adora dar cambalhotas junto com o menino prodígio! E que traça todo o elenco feminino do filme! Esse longa de uma hora mais parece um pornô softcore vagabundo! Quando não está dando cambalhotas contra o crime, Bruce Wayne canta todas as mulheres e ainda leva o jovem Robin pra uma boate de strip tease!!! Essa versão de Batman e Robin tem mamilos, mas não são os bat-mamilos das fantasias de super herói homoeróticas do Batman e Robin de 97! Me refiro ao topless das strippers e das moças que caíram na lábia do varão e justiceiro turco! E o Robin? Que ele fique esperando no Bat-chevete!

Por tudo isso, esse Batman e Robin de 1973 do outro lado do mundo é milhões de vezes melhor do que o Batman e Robin de 1997. Mesmo assim, só recomendo para quem tiver bat-cojones, essa tosqueira é arrastada pra caramba - apesar de ter só uma hora de duração! Santo tempo perdido, Batman!

Trailer de "Yarasa Adam" (1973, Günay Kosova)

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Santa psicodelia italiana, James Bond!

Bonnie e Clyde, Mickey e Mallory Knox, Steve McQueen de Thomas Crown com a Faye Dunaway a tiracolo, até mesmo o Sean Connery e a Catherine Zetta Jones em "A Armadilha"! O subgênero cinematográfico do fora da lei charmoso e carismático que consegue realizar os mais mirabolantes crimes e de quebra  leva a polícia e, principalmente, a sua garota à loucura conta com vários exemplos ao longo das décadas. Inclusive, pasmem, a Geena Davis de namorada do Bill Murray, o bizarro assaltante de bancos fantasiado de palhaço em "Não Tenho Troco", oras! Horror!

Muito se deve o sucesso desse tipo de filme a Jean-Luc Godard, caríssimos! Graças ao estiloso e clássico  "Acossado", ele impressionou multidões com a romântica história do ladrão de carros e sua namoradinha americana cúmplice fugindo e se escondendo da polícia.



A Itália, evidentemente, não ficaria de fora desse filão, claro! A exumação de hoje é do diretor Mario Bava, o diretor dessa semana no The Dark One Podtrash (http://td1p.com/podtrash-98-mr-horror-man-bavaaa/#comment-4745). Imaginem a história do ladrão carismático e sua garota com uma roupagem mais exagerada, como pedem as tramas das histórias em quadrinhos, caríssimos. Ou melhor: imaginem uma espécie de união entre "Acossado" e "Alphaville", outro clássico de Godard, só que mais pro lado da ficção científica e o universo pop dos quadrinhos! O italiano Mario Bava vai trazer pro cinema a estridente e inacreditável adaptação do gibi de sucesso nos anos sessenta "Diabolik", sobre o audacioso personagem título, o ladrão mais megalomaníaco de todos os tempos!

Esse longa de 1968 entra na onda dos vários filmes do período sobre super-heróis e personagens de quadrinhos - na Itália temos os inesquecíveis Argoman e o Superargo, enquanto na França temos "Fantômas" e os States atacam de "Barbarella", por exemplo -, com direito a muita extravagância, psicodelia e ação desenfreada. O astro, inclusive, é o anjo namorado da Barbarella no filme do mesmo ano, o John Phillip Law! Imaginem Diabolik como uma espécie de James Bond e Batman do mal: com os planos e os equipamentos mais mirabolantes, o mestre do crime rouba milhões em dinheiro, ouro e jóias bem debaixo dos narizes do governo e da máfia e esconde tudo na sua batcaverna milionária! Mesmo com a união da polícia e da máfia, o ladrão mascarado sempre se dá bem! A cena do Diabolik traçando a gostosa e inseparável Eva na cama giratória em cima de uma pilha de notas de dinheiro é perfeita, com todo seu exagero psicodélico! Se o Tio Patinhas fosse um pato quaquilionário tarado e pervertido, seria assim a sua rotina!

Existem outras cenas memoráveis: nosso anti-herói lança gás hilariante típico do Coringa durante o pronunciamento do governo sobre os roubos fantásticos, explode os prédios do Ministério da Fazenda, destruindo os registros do Imposto de Renda (!!!) e usa a miraculosa pílula para se fingir de morto e escapar mais uma vez! A cena mais inesquecível desse filmaço do diretor italiano, contudo, é a festa no porão das drogas dos traficantes, uma verdadeira orgia psicodélica! Ao som da música lisérgica de Ennio Morricone, os hippies viciados com maquiagens e figurinos tão variados quanto estranhos dançam, performam e passam baseados enormes em meio a xilofones colossais, cenários de plástico e mulheres cobertas de flores e garrafas, tudo ainda mais viajante e esfumaçado graças às câmeras e lentes de Mario Bava!

Em suma, os figurinos exóticos, os cenários extravagantes, os carrões do Diabolik e da Eva, a abertura psicodélica típica da série do James Bond, os tiroteios e perseguições, a correria e o clima cartunesco tornam o filme imperdível. Nessa pérola de orçamento gigantesco para os padrões a que o mestre do horror e do "giallo" estava acostumado (a produção é do Dino DeLaurentis!), tudo grita quadrinhos e remete aos insanos anos sessenta. Se o seriado do homem morcego fosse invenção italiana, Mario Bava seria o cara para dirigi-lo! O exagero é tamanho que o vilão arqui-inimigo de Diabolik parece ter saído direto dos filmes do 007! E como se não bastasse, o nêmesis emprega a armadilha saída do seriado inesquecível do Batman, o velho truque de aprisionar o protagonista num banho de ouro! Santa cobiça, Batman! Será que nosso anti-herói conseguirá escapar de mais essa enrascada dourada? Não percam o eletrizante e psicodélico próximo episódio de Diabolik! Nesse mesmo bat-horário! Nesse mesmo bat-canal!

Bill Murray, o Palhaço do Crime, aprovaria!

 Trailer de "Danger: Diabolik" (1968, Mario Bava)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O Rocketeer blaxploitation!



A exumação de hoje é o trashíssimo "Black Samurai" de 1977, caríssimos! Jim Kelly, o eterno Black Belt Jones, é o cara. Ele estrela essa pérola blaxploitation no papel título, o que não é pouca coisa.

Black Samurai, não muito diferente do anterior Black Belt Jones, é o agente secreto da organização DRAGON. Ele teve sua namorada chinesa seqüestrada por seita vodu (!) que contrata anões vestidos de caubói lutadores de kung fu (!?), zulus mascarados e urubus treinados para matar (!?!) pra acabar com a sua festa.

Os esforços dos vilões são inúteis, claro, pois Black Samurai utilizará toda a sua versatilidade - tanto no quesito atuação quanto no quesito fodacidade característica dos protagonistas blaxploitation - para resgatar a moça e acabar com a graça dos meliantes. Como? Além de jogar tênis, sentar a porrada em marginais, dirigir os melhores carrões estilo 007 dos anos setenta (com direito a telefone e escopetas embutidos!), e ter um charme todo especial com o elenco feminino, Black Samurai deve invadir o covil do vilão bruxo líder, uma espécie de fortaleza construída segundo os parâmetros daquela mansão estranha do arquiteto Gaudi! Essa cópia barata do edifício famoso de Barcelona inclusive servirá de cenário para uns oitenta e cinco por cento das externas de todo o longa, deve ser um recorde!

Mas o mais importante não foi citado até agora... Além de enfiar a bolacha nos bandidos e acabar com a mocinha gostosa, Black Samurai ainda voa!!! É a primeira primeira vez num blaxploitation em que é possível assistir a um negão alado, graças à maravilha tecnológica da mochila-foguete estrategicamente estocada na mala do carrão do Jim Kelly!

Urubus assassinos, anões caubóis do mal, rituais macabros de vodu, lutas toscas com capangas incompetentes, esfaqueamento de saco escrotal, dublagem porca durante o clímax, e o Jim Kelly voando com sua mochila-foguete. É preciso dizer mais? Tosqueira trash mega recomendada!


Jim Kelly, o pássaro negro graças à mochila foguete em trecho de "Black Samurai" (1977)




terça-feira, 10 de julho de 2012

O "Blackzorcista"!!



A semana começa na mais pura negritude, caríssimos! Simbora partir pro blaxploitation!


A exumação de hoje é "Abby", um black-plágio de um mega sucesso mega copiado no mundo inteiro! Se "O Exorcista"  de 1973 foi imitado pelos turcos (mas é claro que sim, com o "Seytan"!) e pelos italianos (com o bisonho "Chi Sei?" ou "Behind The Door"), por que um blaxploitation não poderia imitar também? Nem preciso dizer que todas essas três belas pérolas são do ano seguinte ao lançamento do clássico do terror de William Friedkin, 1974!

Mas "Abby" vem com adendos importantíssimos (o diretor dessa tosqueira é o mesmo de "Manitou", filme bizarríssimo cuja resenha ainda estou devendo!): se Max Von Sidow é o padre exorcista Merrin em 1973, em 1974 o religioso que bradará "Sai capeta!" é interpretado por nada mais nada menos que William Marshal, nosso eterno "Blacula"!!!

Outro adendo interessante é o fato dos papéis femininos clássicos de inocentes garotinhas brancas irem parar nas mãos de atrizes adultas no blaxploitation. Lembram-se da Dorothy, caríssimos, que na história original tem seis aninhos, mas que na adaptação black pro cinema virou uma professora de 24 anos, interpretada por uma Diana Ross de 34? Pois "Abby" é a nossa Regan! A garotinha imortalizada por Linda Blair com seus doze aninhos possuída pelo demônio sumério Pazuzu dá lugar a uma dona de casa religiosa e conselheira conjugal, casada com um reverendo! Que é possuída por nada menos que... Exú!!!

"Pra quê sutileza subliminar no terror quando podemos ser toscos?",
pergunta-se Abby.

Nessa versão não temos o vômito-ervilha clássico, mas Abby chega a dar suas babadinhas graças ao efeito especial baixo orçamento obtido com comprimidos efervescentes. Não temos a protagonista descendo assustadoramente as escadas tal qual uma mulher-aranha acrobata do Cirque du Soleil, mas ela foge do hospital durante o obrigatório exame médico empurrando aleijados e chutando doentes. E também não temos a cena chocante da vítima possuída futucando as suas partes pudendas com um crucifixo, mas Abby chega a patolar o padre exorcista!!!! Pois é, Exú faz questão de ser uma entidade bem danadinha! Abby não é uma menina indefesa amarrada na cama, ela é uma adulta possuída e tarada que adora tripudiar de qualquer negão que porventura não seja bem dotado!

Abby põe seu vestido curto e seu blazer de lapela nada discreta e sai dirigindo pela noite! A propósito, nesse plágio não temos a clássica cena da cabeça virando... a lapela colossal jamais permitiria! Mas como se trata de um blaxploitation, uma maria-mole pra quem adivinhar onde nossa heroína endemoniada vai em busca de sexo animal? Numa boate disco, antro da perdição, música negra e amor livre, bicho - é claro! Repleta de garçonetes-quengas de cabelos black power gigantescos e cafetões de óculos escuros e ternos ultra coloridos, sempre com aquele bom gosto característico no modo de se vestir! Afinal de contas, a palavra cafona só será inventada mais ou menos depois dos anos oitenta!

Esqueçam o clímax claustrofóbico do filme original no quarto de clima gélido da menina, pois o duelo apoteótico em "Abby" é na boate de clima disco! Nossa querida protagonista, tal qual Carrie, a Estranha, toca o terror na população andrajosamente vestida, aguardando desafiadoramente a batalha final com o exorcista. Ela faz ventar, solta faíscas, taca fogo no globo luminoso do teto, provoca terremotos, apronta o diabo (!). Frente tamanho poder, nosso exorcista-Blacula se utiliza de artifícios ecumênicos: ele abandona a cruz e apela, se transforma de pastor em pai de santo!!!! Imperdível!!!

Recomendadíssimo para os amantes do trash. Os aficcionados por filmes assim já podem esperar por seu único problema, o aspecto mais assustador num longa de terror desse tipo não é o demônio nem a possessão, mas sim a atuação pavorosa dos atores! E nem se preocupem com o fato de ser plágio, pois segundo as lendas, Bolaños "Chespirito-Chaves" clama há anos que o livro e o filme "O Exorcista" foram plágios de uma idéia original sua de 1973 (!), sobre uma menina possuída que movia objetos e voava sobre a cama!!! Talvez tenha sido do mesmo jeito com "Abby", a imitação acabou saindo sem querer querendo!

Trecho de "Abby", onde a risonha personagem resolve passear à noite
 

 

quinta-feira, 5 de julho de 2012

A fantástiquis pré-MTVizis, cacildis!



O The Dark One Podtrash dessa semana sobre Os Trapalhões (http://td1p.com/podtrash-96-a-internet-discada-e-atrapalhada/) foi um festival de nostalgia pura, caríssimos!

Fiquemos então com momentos inesquecíveis desse quarteto fantástico! Quem foi moleque na época certamente recordará com um sorrisão de orelha a orelha de alguns dos melhores momentos da história videoclíptica brasileira, sem exagero nenhum! Bem antes da MTV surgir e passar Michael Jackson e seu "Thriller" pros States e pro mundo, se o programa dominical da zebra possuída pelo demônio que dava o resultado da loteria esportiva - o "Fantástico"! - não exibisse em plena década de setenta superproduções dignas de Hollywoood, o programa dos Trapalhões dava conta do recado!

A zebra-satã do Fantástico só movia os olhos e a boca do mal!
Maldita criatura sinistra...


Para aqueles mais novos conhecedores apenas da atual heresia em forma de programa-rebarba da tevê (o Didi já tá gagá!), onde o dançarino de música baiana de alcunha reptiliana ousa substituir o insubstituível Mussum, aproveitem a palhinha a seguir desses mestres das trapalhadas e seus momentos audiovisuais musicados incríveis!

Nesse primeiro trecho temos os Trapalhões e Ney Matogrosso no programa da tevê em 1978, ou, para horror do Freddy Mercury, o "I want to break free" à brasileira!


Querem metal? Diretamente do filme "Os Trapalhões no reino da fantasia" (1985), a banda Heavy Trap's, com destaque para Zacarias de Brian Johnson e Mussum na batera! Detalhe: Lenine também participa!




Mussum metaleiris


Já o próximo é clássico dos Trapalhões - e quiçá um dos melhores clipes já feitos no Brasil-sil-sil! A dramaticidade da letra em sincronia perfeita com os detalhes das imagens, a elegância de Didi encarnando a mulher à espera do amor perfeito, a riqueza metafórica e o show de interpretação, os cenários sublimes... "Teresinha" de Chico Buarque na voz de Maria Bethânia e dramatizado pelos Trapalhões... antologicamente trash!

 
Mas para que surja o debate do melhor video nacional, é preciso apresentarmos outro clipe espetacular de nosso Brasil varonil, onde não por acaso também tem o Mussum! Assistam a superprodução "O aniversário do Tarzan", dos Originais do Samba, de 1978, época em que o programa Fantástico era a meca dos videoclipes do Brasil! Esse, além de coreografia envolvente, tem participação especial de Russo (assistente de palco highlander!) como Popeye, bem como a presença marcante da Mulher Maravilha obesa, do Cebolinha e do Capitão América! Incrívis e imperdívis, cacildis!!