segunda-feira, 7 de maio de 2012

Mind games...



Samuel Fuller era o cara. Sempre apresentou temas bem polêmicos e controversos pra época em que seus filmes foram feitos, buscando denunciar problemas na sociedade americana de forma contundente. Desde o início os temas característicos e recorrentes na sua obra já estavam lá, como a obsessão, a traição, o crime, a violência.

O primeiro longa, "Matei Jesse James" (1949) - cuja história já foi recontada várias vezes por Hollywood, inclusive num filme que ainda não assisti de 2007 com Brad Pitt fazendo o Jesse James - é considerado pioneiro no campo do "faroeste psicológico" - o que quer que isso signifique!

Outros exemplos do cinema do Sam Fuller: "Cão Branco" de 1982 (aborda os conflitos raciais, o preconceito e a violência e demorou à beça o seu lançamento, e por isso o diretor nunca mais fez filmes em Hollywood) e "O Beijo Amargo" (1964), com a cena inesquecível da prostituta careca espancando o cafetão bêbado pra casar e virar enfermeira do hospital de crianças aleijadas!

Mas a exumação de hoje é em preto e branco e é do meu filme preferido desse diretor inconformado com o controle excessivo dos estúdios sobre o seu cinema: "Paixões Que Alucinam" (1963). Aqui o protagonista é um repórter que resolve se fingir de maluco pra conseguir um furo de reportagem sobre um assassinato dentro de um manicômio, com a conivência da namorada stripper, do seu patrão e de um psiquiatra xing-ling!

À medida que nosso herói, cujo sonho é ganhar o Pulitzer e as capas de revista, vai se misturando com os doidos, ele próprio - é claro! - vai perdendo a própria sanidade. O interessante é como o diretor constrói a trama: testemunhamos não apenas o diálogo do protagonista com sua mente e suas alucinações com a namorada stripper dançando na sua cabeça, mas temos acesso à cabeça dos outros internos, que são um show à parte! Vejam só a sorte de personagens bizarros a que somos apresentados! Primeiro, escutamos a ópera do fígaro fi-fígaro fá todinha na mente do obeso mórbido. Depois, assistimos  flashbacks coloridos do Buda e do Japão na mente do ex-soldado que sofreu lavagem cerebral na Coréia e pensa que é caubói. Temos, ainda, um cientista que participou da contrução da bomba atômica cujo arrependimento o fez regredir mentalmente até a idade de seis anos! Sim, o filme tem um cientista louco!!  E por fim, o mais bizarro: um negro que acredita ser membro da Ku Klux Klan e rouba as fronhas dos travesseiros pra fazer capuz com furo nos olhos e tudo!

E nem mencionei os eletrochoques, o número musical surreal da stripper, a alucinação da tempestade nos corredores do hospício e o genial ataque de uma dezena de doidas ninfomaníacas sofrido pelo incauto repórter (minha cena favorita, aliás!). O objetivo do diretor era jogar na cara da classe média americana a insanidade e a hipocrisia da sociedade naquela época braba da Guerra Fria. Ele não foi nada sutil - e nem quis!- nos temas polêmicos da guerra, da bomba e dos conflitos étnicos. O filme já datou um pouco, mas eu recomendo! Ele mostra perfeitamente com a metáfora do manicômio e seus pacientes um fenômeno que a gente pode perceber já há algum tempo: que os States são uma casa de malucos, a América é mesmo uma fábrica de doidos!

Ninfomaníacas!


Trailer de "Shock Corridor", com direito a palhinha do ataque das ninfomaníacas (Samuel Fuller, 1963)!


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