sexta-feira, 25 de maio de 2012

Mi nombre es Plágio, Bat-Plágio


Heróis mascarados que lutam contra monstros terríveis e ainda salvam a mocinha no final são fantásticos. Mas fantástico como O Fantástico Jaspion? Não, fantástico como O Fantástico Argoman, diretamente da terra da brusqueta - eu disse brusqueta!

Nos anos sessenta, praquelas bandas italianas filmes baseados em super-heróis abundavam, eram quase tão bem sucedidos quanto os plágios da lucrativa franquia do 007 (O 777 e Super Seven eram alguns deles, 100% da Itália!). Então por que não unir o arrogante espião inglês com a psicodelia pastelão braba do inigualável seriado do Batman com uma pitadinha dos luchadores mexicanos como o El Santo, tudo num filme só? Tosco não define o resultado dessa pérola de 1967, "Come rubare la corona d'Inghilterra".

Os italianos são geniais! Eles combinaram várias características de personagens conhecidos dos filmes e quadrinhos em um só. Temos a filantropia super-heróica de um playboy milionário cuja mansão vem equipada com tudo, de mordomo zeloso e quadro da Mona Lisa (!) até a cama-balanço azul fosforescente (!?), muito semelhante a um certo sujeito fantasiado de morcego estrla da série mais histriônica dos States. Já a galinhagem machista do famoso espião inglês (que vai levar as gostosas pra dar uma volta na supracitada cama-balanço) também não fica de fora, assim como as habilidades de luchador combinadas à fantasia berrante do México! Mas não pára aí: o próprio codinome é emprestado de um super-herói ítalo-espanhol, o Superargo, que já tinha sido feito pra "homenagear" o El Santo e o 007!

Quem é Superargo? O trailer inesquecível de "Superargo" (também de 1967) está aqui:

Agora que os caríssimos já sabem quem é "SUPERARGO, U UOMMO MASQUERATO!!!" e se já recuperaram a audição, podemos prosseguir, pois a cara de pau é infinita. Onde estávamos? Ah, o Fantástico Argoman. Ele usa uma fantasia atroz, tem misteriosos poderes de controle mental  e telecinésia aprendidos no exótico Oriente e enfrenta uma vilã clássica estilo Mulher-Gato do seriado do Batman, só que ela tem direito a figurino discreto (prateado berrante com chapéu de medusa!), capangas uniformizados, quartel general cheio de instrumentos de tortura e o inevitável robô assassino feito de papel alumínio!  Mas o justiceiro mascarado não usa seus poderes somente para o combate ao crime e a paz mundial: em um momento inacreditável, Argoman, em traje civil de milionário de roupão ao lado da piscina de sua mansão em sua ilha secreta particular, faz levitar com a força de sua mente uma gostosa de recém-chegada de barco diretamente para o seu colo! Pra quê cantada? Pra quê papo? Pra quê dinheiro, quando você tem o poder de mover gostosas de rosa-choque com a mente! Viva os anos sessenta!

Detalhe: Argoman perde seus poderes por algumas horas após a prática do ato sexual! E já que ele tem a libido do James Bond, o sexo é a sua kriptonita! Oh meu deus! Como o "encapuzado-maravilha" fará para salvar o mundo, derrotar a vilã e ainda traçar a gostosa na cama-balanço? Não percam nesse mesmo bat-horário! Nesse mesmo bat-canal! E viva os anos sessenta!

"Come rubare la corona d'Inghilterra" (ou "The Fantastic Argoman", 1967, Sergio Grieco)

Não abuse da sorte perto de Argoman, senão: "Kill each other"!

quarta-feira, 23 de maio de 2012

E agora? Quem poderá nos defender?

Muito bem, caríssimos!

(Não tão) orgulhosamente, aqui apresentamos a chamada dos inscritos para o Festival Internacional de Heróis Bizarros!

Comecemos com o discreto herói italiano Flashman! Com direito a identidade secreta de milionário e fiel  mordomo que o ajuda no combate ao crime, num rompante de criatividade dos roteiristas Flashman também conta com o importante auxílio da sua irmãzinha maluca-psicodélica!

Flashman (1967)


Trechos do filme "Flashman" (1967)


Vamos à Índia observar de perto um dos vários plágios do Super Homem! E é claro que, dos quatro (!?) Supermen disponíveis por lá, escolhemos o mais bisonho! Fiquem com o tal de "Telugu Superman", de 1980, e a sua inacreditável dança pelos céus com a Lois Lane bollywood!

"Telugu Superman" (1980)

Dança medonha do Telugu Superman:


Produção conjunta da Itália com a Espanha, lá vem o ser de outra galáxia, o salvador da Terra, voando sem escalas pela conexão Madri-Nova York com trilha sonora disco: Supersonic Man!!
"Supersonic Man" (1980)

Trecho disco de "Supersonic Man", pérola muito original do super herói alienígena que tem um cientista louco de inimigo!


Direto del México, a maravilhosa Maura Monti interpreta "La Mujer Murciélago", ou a popular Bat Woman: de biquini!!!

"La Mujer Murciélago" (1968)

 Trecho do filme com bat-performance  muito boa da maravilhosa Batwoman com seu bat-biquíni (no ringue ela usa o bat-macacão, para nosso desespero)!

Cada país com o herói que merece. Mas e no quesito vilão?

O prêmio vai para o Homem Aranha Turco, é claro!!

Assim nascem as lendas.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Catuca a turca!


Uma semana turco-pop dançante, caríssimos!

Preparem os turbantes, os véus e ponham os ventres pra chacoalhar! Embalado pelas tosqueiras cinematográficas da Turquia que ignoram o conceito de plágio no episódio do The Dark One Podtrash dessa semana (http://td1p.com/podtrash-90-vingadores-turcos-avante/), simbora balançar o esqueleto (!?) com a Beyoncé-clone do país cara de pau suprema cuja capital é Ankara, e não Istambul!!

Fiquem com Hadise, a gostosa-imitação que faturou o quarto lugar pros turcos em 2009 na competição musical de mais de meio século de duração que sempre foi o maior sucesso na Europa, o Eurovision! Essa espécie de Show de Calouros de famosos, que parece uma versão mais brega do American Idol (como?) pras bandas européias, revelou gente como o Abba e os inesquecíveis integrantes do Dschingis Khan (é impossível tirar da retina a imagem desse grupo dançando quando os conhecemos: http://exumador.blogspot.com.br/2011/06/os-power-rangers-do-tempo-da-discoteca.html).

Sem mais, subam o volume pra Tek Tek, Tic-Tac, Toc-toc..., sei lá, o que importa mesmo é a performance muito boa da Beyoncé turca!

Sente o drama da multidão-Maracanã na semi final do Eurovision de 2009 pra ver a gostosa ("Dum Tek-Tek", Hadise):

quinta-feira, 17 de maio de 2012

O Koala Bala e a Lula Lelé do Japão

Takashi Miike não perde o posto de Mestre do Bizarro do cinema nipônico apesar da séria concorrência existente naquela Terra do Sol Nascente de loucos, caríssimos!

O suposto usurpador insano, o senhor Kawasaki, achou por bem recorrer àquele recurso muito utilizado nos animes e mangás daquelas bandas, a chamada antropomorfização e a posterior urbanização de criaturinhas da natureza para compor personagens bisonhos pros seus filmes, com resultados muito estranhos.

O koala do bem


A lula do bem


O caríssimo leitor duvida? Pois se prepare pra duas pérolas cinematográficas do Seu Kawasaki onde simpáticos animais falantes dos desenhos da Hanna Barbera sofreram Metamorfose Suprema! Na primeira acompanhamos a trajetória do protagonista, uma lula profissional de luta livre com síndrome de Rocky, Um Lutador (!?) e no segundo filme o personagem principal é um koala executivo de uma multinacional de picles (cujo diretor é um coelho!) acusado de assassinar a própria esposa (!?!). Eu quero saber quem é o maluco que deixa à solta um fugitivo do hospício de Tóquio com uma câmera na mão!

A lula do mal


O koala do mal

Tenha medo  dessas versões toscas em carne, osso e espuma dos desenhos dos estúdios Hanna Barbera! Agora imagina uma versão japonesa da Hiena Hardy! Ó, vida, ó céus, ó azar! O mundo ainda não está preparado pra isso!

Luta do "Calamari Wrestler" (ou "Ika Resuraa", de Minoru Kawasaki, 2004)


Trecho do pesadelo do koala executivo em "Koara Kachô" (Minoru Kawasaki, 2005)


Sinistro!


quarta-feira, 16 de maio de 2012

A pororoca dos Irmãos Wachowski com Cidade de Deus

Rinha de galo Matrix no submundo.

Sim, é isso mesmo, caríssimos.

Rinha de galo Matrix no submundo.



Takashi Miike é, definitivamente, um maluco bizarro. Se estava faltando alguma evidência que comprove essa verdade, não está mais.

O filme se chama "City of Lost Souls" (2000) e tem um protagonista gângster metade japonês metade brasileiro que se envolve com a Yakuza, a máfia chinesa, um russo (!) e quem mais o caríssimo leitor imaginar! Alguns dos atores gringos interpretam brasileiros com uma pronúncia do português mais bisonha que a cometida no segundo filme do Hulk (aquele do Edward Norton de Bruce Banner na favela carioca com a fábrica de refrigerante verde "Pingo Doce", como esquecer?). Mas tem, entre diversas outras bizarrices (é claro!), a rinha de galo Matrix no submundo. Imperdível!

Rinha de galo Matrix do submundo ("City of Lost Souls", 2000, Takashi Miike)


E o trailer:





terça-feira, 15 de maio de 2012

Perversão, sangue e pesadelo na Yakuza (ou O cachorrinho, a concha de sopa e o leite materno no País das Maravilhas)


Takashi Miike é um diretor estranho que faz filmes muito estranhos. Na minha opinião, o nível de bizarrice presente em quase todos os seus longas rivaliza com o dos grandes mestres do bizarro no cinema (David Lynch, Alejandro Jodorowski, David Cronenberg, José Mojica Marins, John Waters, Terry Gilliam, Darren Aronofski, Ken Russell... - a lista é gigante!) e isso é mais do que suficiente para que ele esteja entre os meus diretores favoritos.

Os principais temas recorrentes no cinema desse japonês doido e ultra versátil são a morte, a violência e as perversões psicológicas e sexuais, tudo embalado por temáticas surreais altamente estilizadas nos gêneros que ele adora filmar, especialmente o horror, os filmes de gângster e até, vejam só, a comédia! Em todos os seus longas esses temas estão presentes em maior ou menor grau. Mas a exumação de hoje talvez seja o ápice da esquisitice na obra bizarríssima do Takashi Miike. Se em "Ichi The Killer" e "Audition" temos a violência, a escatologia e o sadismo em nível elevado, em "Visitor Q" e "Happiness Of The Katakuris" temos tabus, perversões sexuais (como a necrofilia, o incesto e o suicídio) explorados bizarramente na forma da comédia em estilos muito diferentes como o documentário ou o musical, e em "Izo" o surrealismo une todos esses temas de forma bem abstrata, parece que só em "Gozu" (2003) a gente finalmente entra na mente bizarra desse diretor bizarro.



"Gozu" (uma das cinco produções de 2003 do Takashi Miike!) - que significa cabeça de vaca e serve de abreviação em japonês para "O Grande Teatro da Perversão e do Medo" (!), é o filme do dilema de um membro da Yakuza sexualmente reprimido que recebe a ordem do seu chefão velhinho com disfunção erétil (!?) de assassinar e desovar o cadáver de um outro membro da gangue que salvou a sua vida, mas que desaparece misteriosamente. Todos os personagens, sem exceção, confirmam aquela máxima já manjada de que de perto, ninguém é normal - todo mundo nesse filme é lelé ao extremo!

Nós acompanhamos a jornada do protagonista biruta em busca do paranóico sujeito da Yakuza desaparecido por vários lugares estranhos, como a casa de chá administrada pelo traveco careca (!) e a sinistra pensão do autista médium (!?) e da sua irmã, a velhinha maluca que adora distribuir seu leite materno pra todo mundo (!?!). O filme é repleto de alucinações e lembranças do protagonista retraído em momentos grotescos inesquecíveis, e logo ficamos em dúvida se a história acontece mesmo ou se é apenas a imaginação do pobre sujeito.

Quem quiser se aventurar e embarcar nessa viagem cinematográfica ao pervertido, ao sórdido e sobretudo ao estranho, fiquem atentos a algumas das cenas mais inesquecivelmente bizarras da história do cinema! Prestem atenção no ataque brutal contra o cachorrinho-Yakuza (!), no leite materno vazando pelo teto, na cura fatal pra disfunção erétil do vovô Yakuza, no minotauro babão lambendo a cara do protagonista (!?), na troca de identidade (e gênero!) de um personagem importante de um jeito que David Lynch não faria melhor, e à cena de sexo no clímax dessa ode ao grotesco surreal. O final é apoteótico, caríssimos, e coroa definitivamente Takashi Miike como um dos Mestres do Bizarro!

Trailer de "Gozu" (Takashi Miike, 2003)

Vivendo e crescendo no Japão






Um começo de semana niponicamente estranho, caríssimos!

Embalado pela maluquice generalizada do filme do insano Takashi Miike apresentado no Podtrash dessa semana (http://td1p.com/podtrash-88-numero-1-porra/), descobrimos porque o assassino serial Número 1, o Ichi The Killer, é mentalmente desequilibrado.

Olha as propagandas educativas que ele assistiu na tevê durante sua infância! Com uma babá eletrônica dessas, é impossível alguém crescer certo das idéias no Japão:

Comercial para o Assassino Número 1 aprender a fazer o Número 2


Comercial para o Assassino Número 1 aprender a superar as mágoas por causa de um coração partido


Comercial para o Assasino Número 1 aprender a dançar enquanto promove o extermínio


Comercial para o Assassino Número 1 aprender a controlar o estômago


Comercial para o Assassino Número 1 aprender de onde vem o leite

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Os robôs, a vagina e a cachaça (ou O vovô viu a vulva da vovó)


A dupla estilosa de franceses que faz música eletrônica com capacete do Jaspion na cabeça durante suas apresentações está em uma experiência audiovisual megaviajante. Façam como eu, "Electroma" (2006), do Daft Punk, é um filme melhor apreciado se assistido com o estado alterado da consciência - isto é: bêbado!

Sim, mesmo alcoolizado, é possível perceber que, ao contrário do que normalmente acontece nesses casos de músicos fazendo filmes, suas canções não aparecem em "Electroma"! O que temos são cenas espetaculares, algumas embaladas por pedaços de composições de outros artistas, e só. Esse longa não tem nem diálogos! Olha só o começo logo aqui embaixo:

Trecho do início de "Electroma" (2006)


Mas nem senti falta dos diálogos. Querem a história? Em "Electroma" acompanhamos os dois personagens robóticos em sua jornada pra se tornarem humanos por um cenário deslumbrante. Desde o laboratório super branco reminescente de "2001: Uma Odisséia No Espaço", onde eles recebem uma massa de bolo cor de carne por cima dos capacetes pra simular rostos humanos até tomadas magníficas num deserto, passando por uma cidade estilo "Twin Peaks" habitada por dezenas de robôs! O sol inclemente causa até a impressão de que as máscaras dos Daft Punks "choram" nessa cidade bizarra!

Mas falando no deserto em particular, caríssimos, existe um momento em que as dunas por onde caminham a dupla de robôs tomam a forma das curvas de um corpo feminino, e somos agraciados com um corte ginecológico que Stan Marsh, do desenho do South Park, jamais teria dúvidas sobre o clitóris!

Trecho de "South Park: Bigger, Longer and Uncut" (1999)

 Outra cena vaginal que minha ébria memória divagadora se recorda é a cena do sonho estilo filme mudo no "Fale Com Ela" (2002), do Almodóvar, inesquecível!

Trecho ginecológico de "Hable con Ella" (2002, Almodóvar)

Mas digressiono insone e bebadamente. Voltando a "Electroma", recomendo que os caríssimos leitores assistam o filme pelas tomadas belíssimas e viajantes da jornada da dupla mecatrônica para se transformarem em homens. Se porventura eles não conseguirem, eles chegaram perto numa cena inesquecível de imolação. E o que tacar fogo em si mesmo tem a ver com homens? Ora, observem a famosa imolação de um sujeito na capa do álbum "Wish You Were Here" do Pink Floyd, logo abaixo!



Por fim, a seguir, pelo poder da cachaça, trechos dos dois robôs em "Electroma" unidos pela música "We Are The Robots" do Kraftwerk!!



E viva os estados alterados de consciência!!

terça-feira, 8 de maio de 2012

A banda de rock está unida



A exumação de hoje é um documentário falso, ou, como os americanos chamam, um "mockumentary". E conta a história de uma banda de rock falsa. Ou seja, é um "rockumentary-mockumentary"! E não é o "This Is Spinal Tap"!! É  um documentário mentira com punk rock de verdade, porque as músicas feitas pro filme são espetaculares.

Outra coisa importante digna de nota é que, além da música foda, o filme é o falso documentário mais bizarro que já tive a oportunidade de assistir! E quando digo bizarro, eu deixo os caríssimos leitores chegarem às suas próprias conclusões.



"Brothers Of The Head" (ou, como ficou aqui, "Xifópagos e Roqueiros") de 2005 trata de uma história estranhíssima que é contada de modo não menos estranho, mas genial. O absurdo da trama só poderia ser contado no estilo verdadeiramente falso do documentário-mentira! Preparem-se, pois acompanhamos a curta trajetória da fictícia banda inglesa " The Bang! Bang!", surgida no início do cenário do punk rock em 1974 liderada por dois jovens e talentosos gêmeos... siameses!!



Um empresário inescrupuloso os descobre nos cafundós pantanosos da Inglaterra e resolve transformá-los num sucesso instantâneo no melhor estilo do circo dos horrores, ensinando-os a tocar instrumentos e a cantar com outros músicos numa mansão isolada onde pombos voam pelo teto e bebês tomam cerveja. Tommy e Barry estão unidos pelo peito, compartilham um fígado e Barry não pode tocar guitarra pelo impedimento físico. Logo Barry vira o cantor furioso de punk rock, enquanto o irmão é o silencioso e compenetrado guitarrista. O objetivo era a exploração da situação extrema dos dois, mas eles acabam provando seu talento, evidenciado pelos depoimentos inseridos no falso documentário da nossa época atual dos outros músicos da banda, de médicos, dos parentes e até mesmo do mestre do bizarro Ken Russell! Isso mesmo, Ken Russell faz ponta no filme como ele mesmo! Ele embarcou na onda e aparece mostrando cenas do seu filme inacabado  - e também fictício, é claro - sobre os punks roqueiros xifópagos! Simplesmente fantástico!



A participação do Ken Russell, o clima sombrio, a qualidade das músicas, a construção do filme com cenas caseiras da época e cenas surrais inseridas, o humor negro, os depoimentos contemporâneos e principalmente a construção dos protagonistas garante que esse seja um filme especial. Barry, o vocalista, é o mais vulnerável fisicamente dos dois, o mais carente, o mais frustrado com a situação. Ele escuta vozes na sua cabeça, abusa nas drogas e na bebida e sua performance no palco é nervosa. Já Tommy se liga simbioticamente (!) à guitarra, ele compõe as melodias enquanto o irmão rabisca a letra das músicas nas paredes da mansão,  A jornalista acaba se apaixonando por Tommy e ela, tal qual Yoko Ono, propõe a separação - literal!!! - dos dois roqueiros siameses!

O filme é imperdível. O clima é sombrio, é punk, é grotesco e ainda vem com o mestre Ken Russell! E fica ligado (Rá, rá), você não assiste todo dia um filme sobre gêmeos siameses que por acaso tocam numa banda punk!

Bizarro!

Trailer "Brothers Of The Head" (dirigido por keith Fulton e Louis Pepe, 2005)

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Mind games...



Samuel Fuller era o cara. Sempre apresentou temas bem polêmicos e controversos pra época em que seus filmes foram feitos, buscando denunciar problemas na sociedade americana de forma contundente. Desde o início os temas característicos e recorrentes na sua obra já estavam lá, como a obsessão, a traição, o crime, a violência.

O primeiro longa, "Matei Jesse James" (1949) - cuja história já foi recontada várias vezes por Hollywood, inclusive num filme que ainda não assisti de 2007 com Brad Pitt fazendo o Jesse James - é considerado pioneiro no campo do "faroeste psicológico" - o que quer que isso signifique!

Outros exemplos do cinema do Sam Fuller: "Cão Branco" de 1982 (aborda os conflitos raciais, o preconceito e a violência e demorou à beça o seu lançamento, e por isso o diretor nunca mais fez filmes em Hollywood) e "O Beijo Amargo" (1964), com a cena inesquecível da prostituta careca espancando o cafetão bêbado pra casar e virar enfermeira do hospital de crianças aleijadas!

Mas a exumação de hoje é em preto e branco e é do meu filme preferido desse diretor inconformado com o controle excessivo dos estúdios sobre o seu cinema: "Paixões Que Alucinam" (1963). Aqui o protagonista é um repórter que resolve se fingir de maluco pra conseguir um furo de reportagem sobre um assassinato dentro de um manicômio, com a conivência da namorada stripper, do seu patrão e de um psiquiatra xing-ling!

À medida que nosso herói, cujo sonho é ganhar o Pulitzer e as capas de revista, vai se misturando com os doidos, ele próprio - é claro! - vai perdendo a própria sanidade. O interessante é como o diretor constrói a trama: testemunhamos não apenas o diálogo do protagonista com sua mente e suas alucinações com a namorada stripper dançando na sua cabeça, mas temos acesso à cabeça dos outros internos, que são um show à parte! Vejam só a sorte de personagens bizarros a que somos apresentados! Primeiro, escutamos a ópera do fígaro fi-fígaro fá todinha na mente do obeso mórbido. Depois, assistimos  flashbacks coloridos do Buda e do Japão na mente do ex-soldado que sofreu lavagem cerebral na Coréia e pensa que é caubói. Temos, ainda, um cientista que participou da contrução da bomba atômica cujo arrependimento o fez regredir mentalmente até a idade de seis anos! Sim, o filme tem um cientista louco!!  E por fim, o mais bizarro: um negro que acredita ser membro da Ku Klux Klan e rouba as fronhas dos travesseiros pra fazer capuz com furo nos olhos e tudo!

E nem mencionei os eletrochoques, o número musical surreal da stripper, a alucinação da tempestade nos corredores do hospício e o genial ataque de uma dezena de doidas ninfomaníacas sofrido pelo incauto repórter (minha cena favorita, aliás!). O objetivo do diretor era jogar na cara da classe média americana a insanidade e a hipocrisia da sociedade naquela época braba da Guerra Fria. Ele não foi nada sutil - e nem quis!- nos temas polêmicos da guerra, da bomba e dos conflitos étnicos. O filme já datou um pouco, mas eu recomendo! Ele mostra perfeitamente com a metáfora do manicômio e seus pacientes um fenômeno que a gente pode perceber já há algum tempo: que os States são uma casa de malucos, a América é mesmo uma fábrica de doidos!

Ninfomaníacas!


Trailer de "Shock Corridor", com direito a palhinha do ataque das ninfomaníacas (Samuel Fuller, 1963)!


quinta-feira, 3 de maio de 2012

Traga-me a cabeça... dos donos de estúdios censores!


Horror! Ódio! Vingança! ... E Morte!

Sam Peckinpah, o "Bloody Sam", sempre foi um cineasta controverso e polêmico. Alcoólatra, viciado em drogas, violento, machista, ex-soldado, californiano e mulherengo (foi casado 5 vezes, três com a mesma mulher!) afirmava que, de todas as suas obras, "Traga-me A Cabeça de Alfredo Garcia" (1974) era a única que havia saído exatamente como havia imaginado. Sim, seus filmes quase sempre eram retalhados e re-editados pela censura dos estúdios. Isso acontece desde o seu primeiro, o "Parceiros da Morte", (1961), onde um vingativo caubói que nunca tira o chapéu (será careca?) escolta uma corista viúva por uma região cheia de apaches furiosos até o túmulo do pai do garoto assassinado pelo caubói de chapéu acidentalmente pra ser enterrado. Mas, apesar disso, seu cinema sempre continuou polêmico, pois trata de temas espinhosos como por exemplo da guerra pelos olhos dos nazistas em "Cruz de Ferro", ou da questão da lealdade e honra dos pistoleiros fora-da-lei no sangrento "Meu Ódio Será Sua Herança".

Com orçamento baixíssimo e já em crise profunda, Peckinpah constrói um fracasso de público e crítica na época do lançamento, 1974 - a exumação de hoje. O filme narra a história do ex-fuzileiro maluco da Califórnia durão, machista e alcoólatra Bennie no México - auto-biográfico é pouco! O Alfredo Garcia do título engravidou a filha do poderoso Sinhozinho Malta daquela região, o "El Jefe". Esse coronel, enfurecido, ordena a frase do título, prometendo um milhão pro primeiro que conseguir! Bennie e uma quenga cantora sabem que Alfredo Garcia está morto, e vão em busca do túmulo exumá-lo, arrancar a cabeça e reclamar o prêmio. Contudo, eles não foram os únicos a ter essa idéia...



E como o filme é de Peckinpah, tome poeira, tiroteios, câmera lenta, perseguição, loucura, destruição, estupro, violência e morte! O casal de protagonistas quer a cabeça morta pra garantir o "felizes para sempre" quase obrigatório de Hollywood, mas as coisas não sairão como o esperado...

As moscas e a cabeça dentro do saco são as testemunhas da progressão da loucura, do desespero e de um estranho e obcecado senso de honra do protagonista nesse triste filme de ação banhado em sangue. Bennie tem um objetivo, e ele vai cumpri-lo à risca! Recomendado pelo clima desolado, cruel, macabro - e empoeirado, pois de outro modo não seria um filme trágico do alcoólatra maldito de Hollywood, cujo vício finalmente clamou sua vida dez anos depois de finalmente ter feito um filme do jeito que sempre quis!

Trailer de "Traga-me a Cabeça de Alfredo Garcia" (Sam Peckinpah, 1974)

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Parque de diversões no cinema

O "The Dark One Podtrash" dessa semana (http://td1p.com/podtrash-86-demencia-para-sempre/#comment-3458) homenageia o auto-proclamado "Papa do Trash" John Waters e os diretores que o influenciaram, pois falamos do maneiríssimo "Cecil Bem Demente"!

Hoje exumaremos um desses influenciadores, o senhor dos filmes B e de orçamento baixíssimo, mas que sabia promovê-los como se fossem a oitava maravilha do mundo! Os assentos estão confortáveis? Cuidado com o choque no traseiro, pois vamos conversar sobre um maluco gemial que sabia promover como ninguém as suas obras de terror: William Castle (bem, José Mojica Marins também sabia, ele armava um verdadeiro circo dos horrores quando lançava os seus filmes)!

William Castle, o produtor de "O Bebê da Rosa Maria" do Polanski (e fez ponta nesse filme!), era famoso por atrair o público pras suas sessões de cinema com todo tipo de propaganda bizarra e inteligente, porque dava certo! No caso do filme "Macabre" de 1958, por exemplo, ele garantia uma apólice de seguro pra cada espectador caso o pobre morresse de susto durante a exibição! Está escrito até no poster!





Trailer "Macabre" (1958)

Em "Homicidal" há uma pausa faltando uns dez minutos pro filme acabar com um relógio de aviso gigante de 45 segundos na tela dando tempo pros menos valentes irem embora! Os cagões ainda ganhavam um "bilhete do Covarde" na saída, que valia o dinheiro do ingresso de volta!

Pausa para o susto em "Homicidal"(1961)

O "House on The Haunted Hill" estrelado por Vincent Price tinha um esqueleto no final,e no momento em que ele aparecia um esqueleto pendurado no teto do cinema era lançado no meio da sala num efeito 3D realíssimo, para instilar terror no coração da platéia! Era o bisavô do 3D, o "Emergo"!

O trailer de "House on the haunted Hill" (1959)


O poster com o esqueleto do mal

Se tivemos o bisavô do 3D, que tal o vovô falcatrua do 3D? Era o "Illusion-O", um óculos de papelão com celofane azul e vermelho que permitia ao bravo espectador "entrar no mundo dos espíritos" e assistir aos fantasmas que aparecem na tela - claro que os seres do outro mundo apareciam de qualquer jeito em "13 Ghosts", com ou sem óculos!

Trailer de "13 Ghosts" (1960)

Além de todas essas bizarreiras - inclusive algumas sessões tinham uma ambulância na porta pra que os de coração fraco fossem levados - os truques deviam estar em perfeita sincronia com o que se passava na tela! Mais ou menos como acontecia nas antigas sessões de cinema mudo, onde o piano tocado ao vivo dava o tom que a cena pedia. O truque mais famoso de William Castle em seus filmes talvez seja o "Percepto"! Ele instalou nos assentos do cinema dispositivos de choque para "The Tingler"! A história era sobre o personagem do Vincent Price adepto de LSD (!?!) descobrindo uma lacraia parasita de humanos que se alimenta de medo - inclusive ela virou até monstro dos quadrinhos da Marvel que faleceu miseravelmente quando ele tentou possuir o Demolidor - O Homem Sem Medo (é sério!). Mas pra quê história? O pessoal ia assistir pelo prazer de ser submetido à eletrocução! Mais ou menos como hoje em dia quando o pessoal desconhece a trama e vai pro cinema multiplex assistir ao blockbuster mais próximo em 3D!


William Castle avisando a galera pra gritar quando a eletrocução começar em "The Tingler" (1959)!


No caso de "The Tingler", lá pro final da projeção (o clímax do filme é dentro de um cinema passando um filme mudo, vejam só!) as luzes se apagam e o vozeirão de Vincent Price conclama a anarquia:"Todos gritem por suas vidas!" E as eletrocuções controladas remotamente a mando do sádico diretor tinham início! O povo pagava pra tomar choque! E rindo! Absolutamente um gênio esse William Castle. Detalhe também para o momento de terror a cores no banheiro num filme preto e branco, o que nos remete mais uma vez a José Mojica Marins, mais precisamente "Essa Noite Encarnarei No Teu Cadáver" (67), quando nos surge de forma espetacular a visão de inferno colorido do Zé do Caixão!

Por fim, o interessante nisso tudo era que os filmes do William Castle eram especialmente preparados pensando na exibição na sala de cinema, com toda a variedade de traquitanas e subterfúgios propagandísticos pra atrair o povo pras sessões! Esse lendário - e espertamente insano - cineasta transformava com muita competência o cinema num verdadeiro trem fantasma, fazendo valer o slogan de que cinema é, de fato, a maior diversão! E ainda vinha com aqueles avisos pra cardíacos antes de entrar na montanha russa! Só faltou, infelizmente, a Conga - a Mulher Gorila!