quarta-feira, 21 de março de 2012

O mugido que vem do céu

No cinema, tudo pode acontecer.

A Sétima Arte é dos terrenos mais férteis para um certo tipo de filme, composto de histórias escapistas, insanas e inverossímeis, mas ao mesmo tempo fantásticas e inesquecíveis. Na condição de espectadores dentro da sala escura, tendemos a esquecer por algum tempo da rotina enfadonha da realidade, não é verdade? Mas e quando a trama mais estapafúrdia, mais surreal, é baseada em fatos reais?



Assisti recentemente uma comédia dramática argentina, o "Un Cuento Chino", do ano passado, onde um jovem chinês vai atrás de seu tio em Buenos Aires depois que sua noiva morre tragicamente durante o pedido de casamento. Ele não fala nada de espanhol e acaba sendo ajudado pelo personagem amargurado, fechado e metódico do excelente ator Ricardo Darín. O detalhe do filme é a morte da noiva logo nos minutos iniciais: uma vaca caiu do céu em cima da cabeça dela enquanto os pombinhhos chineses estavam num romântico passeio de barco! E o diretor fez questão de pôr nos créditos finais o noticiário real que baseou a ficção: em 1997, um avião russo com problemas de carga durante o vôo jogou vacas no Mar do Japão, atingindo um navio japonês de pesca e matando vários tripulantes! A arte imita a vida... e a morte!


Não existem placas contra o terrível mal das vacas que caem em alto-mar!
Mais um descaso terrível das autoridades!





E vacas voadoras me lembram de um filmaço de 1999. Trata-se de "Luna Papa", produção russ-germânica no Tadjiquistão. O filme de Bakhtiar Khudojnazarov foi o primeiro em que testemunhei a insustentável leveza do ser bovino! É tragicomédia original, repleta de elementos poéticos e fantásticos; por incrível que pareça, há uma cena também relacionada à celebração de casamento onde uma vaca caindo do céu atinge fatalmente dois personagens que por acaso também estavam num barco! Descontando o ataque das bovinas assassinas que vêm do alto, sobram outros elementos surreais: pra começar, a história da jovem grávida em busca do paradeiro do seu emprenhador desconhecido por todo o Tadjiquistão, acompanhada de seu pai esquentado e seu irmão retardado (esses dois têm o hábito de seqüestrar os candidatos suspeitos de paternidade!) é narrada pelo feto ainda não nascido da protagonista!

Repetindo o manjado clichê, os dois filmes exumados de hoje são recomendados (mas entre os dois, "Luna Papa" é bem melhor) para aqueles que sabem que a vida é mais estranha do que a ficção! Os caríssimos leitores se recordam da canção do corvo do Dumbo? Diz assim: "Mas fiquei um mês sem poder falar / de ver um elefante voar"! Pois imaginem como o perplexo pássaro negro ficaria ao se deparar com uma esquadrilha de vacas despencando do céu!

Trailer "Un Cuento Chino" (Sebastián Borensztain, 2011)

Trechos do imperdível "Luna Papa" (Bakhtiar Khudojnazarov, 1999)

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